Fim de semana a chegar.
Por estas bandas, fim de semana é sinónimo de arrumar as trouxas e fazer uma viagem de 50km por entre vales e montanhas rumo à terra natal - leia-se casa dos pais.
Hoje não dispenso um fim de semana na aldeia. É um encontro com a natureza, é o ouvir dos chilrear dos pássaros, é o cheiro das flores, o sabor a ar fresco, é ver o sol a pôr-se sobre o mar, é a apaziguadora humildade da terra e do seu povo (algum) e é o poder estar com aqueles que realmente fazem a diferença na minha vida. Os meus pais.
A eles devo tudo aquilo que sou hoje, e todos os dias recrimino-me pelo tempo que passo longe. Por todos os momentos que precisam de mim e eu estou longe (fisicamente). A vontade de estar com eles, de os mimar, de os abraças, de os ajudar e como uma sede insaciável.
Vejo os dias a passar, e vão aparecendo alguns sinais da idade, custa-me aceitar, custa-me pensar naquilo que está destinado, por essa razão não prescindo de estar com eles ao fim de semana.
Entristece-me pensar que no momento em que a minha mãe mais precisou de mim e não pude estar presente em todas as horas.
Na altura senti uma revolta.
Terminei a minha licenciatura em Julho/2008, tive vários meses desempregada, andei alheia aquilo que se passava à minha volta, sentia-me inútil.
Quando finalmente comecei a trabalhar, minha mãe foi submetida a um cateterismo para desobstrução da carótida direita, passados uns meses foi submetida a uma cirurgia, Artroplastia da anca... e eu a trabalhar há tão pouco tempo, a querer estar presente e sentir-me completamente amarrada. Não foram tempos fáceis.
Questionava-me todos os dias "porquê agora?".
"Se eu estive tanto tempo desempregada e agora que começo a trabalhar é quando a minha mãe mais precisa de mim. Porquê?"
Nunca mais vou esquecer o que senti no dia da intervenção cirurgica, o médico preveu uma duração de 1h50... mas foi MUITO mais doque isso. E eu ali na sala de espera, sem saber de nada, cada minuto que passava mais parecia um dia, era tarde já não havia ninguém na recepção da clinica, o bloco operatório ficava ao fundo do corredor... passava por lá sob o pretexto de ir ao wc e não ouvia ruído nenhum, o médico ainda tinha o carro no estacionamente, mas ninguém dizia nada... e eu só pensava no pior.
Quando finalmente saiu do bloco, estava pálida, fraca, confusa... e a única coisa que disse foi: "Tenho fome."
Não podia comer.
Cortou-me o coração.
Neste dia, na hora que a vi a emoção foi tão forte que eu quase desmaiei. Tive que sair da sala, sentar-me no chão e esperar que as forças voltassem. Não conseguia. A ansiedade tinha sido muito, o nervosismo, o medo...
Nesse dia devia ter ficado a dormir na clinica com ela, mas eu não conseguia. A enfermeira disse que eu ainda estava pior que a minha mãe. Que o melhor era ir para casa, alimentar-me e descansar, porque a minha mãe ia dormir a noite descansada.
E lá fui eu para casa. Não tinha forças para lá estar, emagreci tanto nesse mês.
Depois a recuperação não foi fácil, a minha mãe esteve completamente dependente de outra pessoa. Valeu o pai maravilhoso que tenho, que esteve (e está, porque ainda não está 100% recuperada) SEMPRE ao lado da minha mãe. Tratou de tudo. Da alimentação. Da casa. Da higiene pessoal. De ir a fisioterapia. Enfim... de TUDO.
Orgulho-me muito do pai que tenho, não acredito que existam muitos homens (da sua geração) que façam tudo aquilo que ele fez pelo bem estar da minha mãe. Obrigada meu pai.
Andava cansado, abatido, emagreceu... mas fez por amor.
Bem... acho que já me estiquei demais. Desculpem. Fico por aqui. :)